Se existe algo que o esporte nos oferece, além dos comerciais excepcionais, são os grandes exemplos de superação e conduta. Entretanto, nesta copa, parece que elegemos mal nosso novo exemplo de superação, e, ao que tudo indica, não foi por mera falta de opção.
Fonte: www.gazetaesportiva.net
Luiz Suárez, atacante da recém-eliminada seleção do Uruguai. Herói-nacional, após atitudes, no mínimo questionáveis. A primeira delas nos remete a sua recente cirurgia de joelho e sua recuperação, mesmo que parcial em tempo recorde, e a pronto tempo de decidir a vida da equipe no confronto pela Inglaterra, na primeira fase da Copa 2014. Risco a saúde, imprudência ou heroísmo?
Podemos também lembrar da Copa anterior, quando, no que para alguns fora um ato de sacrifício e abdicação, para outros a ausência total de fair play, quando o referido jogador defende um chute dos adversários com as mãos, gerando uma penalidade máxima e sendo expulso.
Fonte: www.telegraph.co.uk
Ou talvez podemos nos lembrar de atitudes de antes. Em 2011, o então jogador do Liverpool agride verbalmente o jogador franco-senegalês Patrice Evra, chamado-o de "preto". Foi julgado e condenado, apesar de alegar que chamar Evra de "preto" não era algo racista. Se regredirmos mais ainda, evidenciamos que o atleta já agrediu a dentadas, por assim dizer, em duas oportunidades. Quando atuava no Ajax da Holanda, e Ivainovic, do Chelsea pela Premier league - o campeonato inglês. É inegável que, enquanto jogador, os scouts de Suárez são sucesso. Talvez (e espero que seja apenas daí) que venha seu título de herói, visto que, em se tratando de cordialidade, o mesmo não é exemplo nenhum a ser seguido. Mas, o que reclamar, se ele já foi punido, até severamente demais nesse último incidente. Contra Suárez, pesa a reputação, mas para nós espectadores, é o que realmente me pergunto: "O que pesa?"
Fonte: www.r7.com
Por que não podemos dar o mesmo tratamento heroico ao franco-argelino Karim Benzema, que não canta a Marselhesa (hino da França) pois o mesmo pode ser lido como um ultimato xenofóbico?
Aux armes, citoyens, Às armas, cidadãos, Formez vos bataillons, Formai vossos batalhões, Marchons, marchons! Marchemos, marchemos! Qu'un sang impur Que um sangue impuro Abreuve nos sillons! Banhe o nosso solo!
Porque não dar esse tratamento ao atacante Edin Džeko, que, além de sobrevivente do genocídio resultante da dissolução da Iugoslávia (mérito reconhecido fora dos gramados, visto que o jogador é o primeiro embaixador bósnio da UNICEF), também é sucesso de scouts? Ou de Modric, do lado croata?
Fonte: srdjanbilic.tumblr.com
Porque não falar do histórico discurso de  míseros 76 segundos, mas suficientes para mudar a posturas das diversas etnias conflitantes na Costa do Marfim, pronunciados pelo marfinense Didier Drogba?
"Homens e mulheres do norte, do sul, do leste e do oeste, provamos hoje que todas as pessoas da Costa do Marfim podem co-existir e jogar juntas com um objetivo em comum: se classificar para a Copa do Mundo .
Prometemos a vocês que essa celebração irá unir todas as pessoas.
Hoje, nós pedimos, de joelhos: Perdoem. Perdoem. Perdoem.
O único país na África com tantas riquezas não deve acabar em uma guerra. Por favor, abaixem suas armas. Promovam as eleições. Tudo ficará melhor.
Queremos nos divertir, então parem de disparar suas armas. Queremos jogar futebol , então parem de disparar suas armas.
Tem fogo, mas os Malians, os Bete, os Dioula... Não queremos isso de novo. Não somos xenófobos, somos gentis. Não queremos este fogo, não queremos isto de novo."
Será que o que nos ofende, de verdade, é nosso patriotismo, travestido em uma competição de futebol que deveria ser dissociada da política e de qualquer situação? Ou talvez seja o nosso entorpecente quadrienal, visto que aceitamos sem questionar uma possível manifestação nazista em campo, por mais que o invasor alegue outra questão, no mínimo fica a suspeita. Porque precisamos tanto levantar a alma do guerreiro em campo, sendo que, na realidade, ninguém e inimigo de ninguém, dentro das quatro linhas? Será que a ideia de patriotismo é tão frágil, a ponto de depender de 90 minutos e duas cores de uniforme, dois minutos de execução de hinos? O que faz uma agressão verbal ser menor do que vaiar o hino de um adversário? Nesse sentido, podemos dizer que o separatismo em alguns lugares não supera o amor ao futebol, como na Bélgica. Já não é o mesmo com a Catalunha, parte da Espanha. E no Brasil, país onde a identidade nacional é tão questionada, se é que a mesma existe. O que faz de nós paulistas e paranaenses, nos unirmos a paraenses e alagoanos, entorno de nossa seleção? É essa seleção a cola que nos une enquanto país? Nossas divergências culturais enormes não são suficientes para nos separar administrativamente, mas também não são o suficiente para nos unir enquanto irmãos de sangue e sofrimento. Nos unimos para celebrar e torcer por nossa seleção, mas, cinco minutos após a copa, esquecemos dessa união, enquanto "sulistas" e "nortistas" desferem suas rusgas, empurrando a culpa de administrar um país caótico e limitado, de um lado para outro.
Mas, celebremos. E se for para celebrar, que pelo menos celebremos nossa união enquanto humanidade, mesmo que seja representada por apenas 32 nações e seus diversos povos. Que nossos heróis, ao menos, sejam heróis íntegros e integrais. Que a celebração, ao menos, seja uma celebração, e não apenas mais um "pão, circo e violência", de onde tiramos nossos irmão e colocamos como gladiadores, lutando por coisa alguma. Por menos scouts e tabelas estatística, e por mais diversão, futebol e gentileza, nas palavras de Didier Drogba.