Entretanto, a figura mítica do avestruz com a cabeça enterrada deixando
todo o resto do corpo pra fora (principalmente o rabo) ilustra perfeitamente
cenas cotidianas de pessoas utilizando abusivamente seus aparelhos celulares. É
a “geração avestruz”.
Deixando de lado todo o discurso demagógico, válido, mas demagógico, de
que o celular é indispensável nos dias de hoje, que é uma ferramenta útil de
comodidade e comunicação, etc. etc. é inegável o fato de que para muitas
pessoas o aparelho tornou-se uma dependência emocional, quase uma necessidade
biológica. Isso vai além de considerar o celular como objeto de desejo e
consumo, mas objeto de “refúgio” onde seus usuários frenéticos enterram suas
cabeças, como o avestruz, deixando o resto do corpo (principalmente o rabo)
para fora.
Já existe comprovação científica atestando que o uso abusivo do
aparelho celular pode gerar transtornos psicossociais. A Sociedade Canadense de
Pediatria, por exemplo, recomenda que crianças devam ter acesso restrito ao uso
do celular. O crescimento e desenvolvimento cerebral da criança ocorrem em um
ritmo rápido e os estímulos da excessiva exposição aos aparelhos tecnológicos
causam déficit de atenção, atrasos cognitivos e de aprendizagem, além de
limitar o desenvolvimento do autocontrole.
Relacionado a isso está o fato da obesidade infantil, acarretada pela
privação de atividades físicas por conta da virtualidade do cotidiano. Insônia
e baixo rendimento escolar também são constantes nesses mesmos casos. Além
disso, a Organização Mundial de Saúde classificou os telefones celulares como carcinogênicos
com o risco de categoria 2B, ou seja, estimulante cancerígeno no organismo.
A “geração avestruz” não é composta apenas de crianças, mas de
adolescentes, jovens e adultos. Quando o indivíduo enterra sua atenção ao
aparelho celular em ambientes de socialização deixa de socializar-se
literalmente. Pessoas, barulhos, acontecimentos ao redor tornam-se
imperceptíveis e o mundo torna-se um minimundo para aquela pessoa. Enterrando
sua cabeça no celular a pessoa deixa o resto do seu ser exposto a perigos do
cotidiano. Um exemplo claro é o número de roubos dos próprios celulares no
Brasil. A seguradora BemMaisSeguro.com apontou que somente a cidade de São
Paulo em 2014 registrou um aumento de 149,6% nos números de roubos a telefones
celulares. Ou seja, o usuário está tão enfiado no seu aparelho que se torna
apático ao que ocorre a sua volta. Isso causa distúrbios graves no próprio
contexto social em que se insere. Como o avestruz, esconde a cabeça mas deixa o
corpo exposto ao perigo (principalmente o rabo).
A “celularzação” da sociedade pode ser um
neologismo baixo e pífio, mas seu significado é ainda mais escroto e bizarro
quando visto em prática no cotidiano. A tecnologia foi feita para o homem e não
o homem para a tecnologia. O homem foi feito para o homem e não para o celular.Tags: analise, Educação, Entretenimento
Postar um comentário