Esse post ia ser sobre um assunto completamente diferente, mas eis que chegou quarta e quinta-feira, e eu me deparei com um pequeno sentimento de vazio. Após 15 anos de publicação, finalmente chegou ao fim o mangá de Naruto.

Certo, eu sei que muitos de vocês vão ler isso aqui e pensar “é sério mesmo que ela vai fazer um post sobre Naruto?”. Bem, em primeiro lugar, você tem todo o direito de não gostar de Naruto por qualquer motivo que seja, mas precisa reconhecer a importância que a obra teve no meio dos mangás e, de certa maneira, nos quadrinhos em geral. Uma obra não permanece 15 anos no mercado sendo irrelevante. Em segundo lugar, este post não é sobre Naruto, mas sobre o buraco que essas obras de longa duração deixam no nosso peito quando finalmente acabam.

Eu disse longa duração, mas nem precisa tanto. Uma boa obra daquelas que mexem fundo com a gente, seja um livro, um seriado, um videogame, uma história em quadrinhos ou qualquer outra coisa, geralmente nos deixam com aquela melancolia quando terminamos, é um sentimento de “e agora, o que eu faço?”. Quem nunca sentiu isso, provavelmente nunca se envolveu a fundo com obra nenhuma. É quase como estar de luto.

Agora, quando estamos falando de uma série que se alonga por anos, a dor é bem maior. Nós crescemos, de maneira figurativa e literal, ao lado de muitos destes personagens. Durante todo o tempo de duração da série, nós mudamos como pessoas, mudamos de interesse, mudamos de casa, trabalho, mudamos de vida. Da mesma maneira, é frequente que estes personagens cresçam junto conosco, começando sua jornada como crianças ou jovens e crescendo e se desenvolvendo com o passar dos anos. Sua presença e suas mudanças são uma constante que acompanha as nossas mudanças. Crescemos juntos. O sentimento é o mesmo de um casamento. E quando a obra finalmente acaba, fica um buraco no lugar.


Eu acompanhei Naruto por 10 anos. Precisaria de um post maior que este pra dizer o quanto minha vida mudou neste período, as reviravoltas que aconteceram e viraram meu mundo de pernas pro ar. Mas durante todo este tempo, quase toda semana eu tinha a garantia de que encontraria um capítulo novo do mangá pra ler. A pessoa que eu sou hoje dificilmente se interessaria pelo mangá de Naruto se começasse a ler agora, mas a pessoa que eu era 10 anos atrás sim, e eu queria saber como ia acabar, porque eu já estava presa aos personagens e suas vidas.

No começo, eu me empolgava demais com a história e adorava o quanto o enredo era bem amarrado... depois, conforme a história foi se alongando, ficando mais complexa e os buracos no enredo começaram a aparecer, eu comecei a ficar reclamona. Chegou um momento em que a cada novo capítulo, eu repetia o quanto “o mangá não podia ficar pior” e o quanto “o autor não sabe mais o que está fazendo”. Mas apesar de todas as reclamações, alguma coisa ainda me prendia à série, senão eu já teria a largado há muito tempo. E no fim, quando tivemos uma conclusão final-de-novela, com um epílogo cheio de finais felizes, eu fiquei surpreendentemente satisfeita. Feliz pela conclusão, feliz pelos personagens, feliz pela série.

E aí esta semana eu me dei conta de que não teria capítulo novo. O casamento chegou ao fim.

Naruto se juntou ao rol das obras que, de uma maneira ou de outra, fizeram parte da minha vida. Não posso dizer que “mudaram quem eu sou como pessoa”, não é pra tanto, mas não nego sua importância. Nessas obras eu incluo Harry Potter, A Torre Negra, Dragon Ball, Buffy, Chrono Trigger, O Senhors dos Anéis e muitas outras. E eu fico mais do que feliz de ter este espaço reservado.

Espero que novas séries venham a me conquistar e mexer comigo nos próximos anos da mesma maneira. Quero chegar aos 40, 50, 60 anos, me emocionando, mudando e crescendo com elas, sentindo ao mesmo tempo a alegria da conclusão da obra e a tristeza pelo seu fim.

Mas por ora, tudo que eu tenho a dizer é: Muito obrigada por tudo!