Por: Profº Pedro Bonoto


Sabe: aquelas pequenas maldades que você teima em guardar para si mesmo, mas não consegue resistir em jogá-la no ventilador para ver o estrago?
Eu tenho várias delas guardadas. Hoje vou falar sobre uma delas.


Fonte: tumblr_mqdjgsMJQw1rylrc6o9_500



Não me furto de ver os posts dos Engenheiros do Hawai onde fica explícita a ideia de que eles são uns puta filósofos. Cada frase, de cada música é uma sentença filosófica incontornável até para os espíritos mais inquietos da Humanidade, como um Espinosa, um Nietsche ou um Sartre.
Vou arranjar alguns inimigos, pois até um ex-amor meu se mostra fã incondicional do ajuntamento gaúcho para perpetrar suas músicas contra a humanidade.
Pois bem, comecemos a falar do Humberto. É, o Humberto. Parece um boneco de Olinda gaúcho que deixou o cabelo crescer apenas para fazer chapinha todo final de semana. 

Dizem até que os gaúchos guardam um segredo dele a sete chaves, quando, num belo dia, ele se recusou a fazer um show em São Leopoldo porque esqueceram a chapinha dele em casa. Quem me confidenciou isso, foi uma leopoldense da gema, Maura Balbinot. É claro que ela vai negar de pés juntos, mas isso ela me confidenciou numa bela noite de inverno, depois da terceira ou quarta garrafa de vinho.

A música mais marcante deles, nem é deles, mas que é a mais profunda, filosoficamente falando, é aquela “Era um Garoto”.

Aí é que começa o drama. Esta música é como sarampo, catapora ou varicela. Ataca na primeira infância dos adolescentes punheteiros que já se imaginam um Jimy Page ou um Joe Fogerty da vida. E lá vão eles infernizar a vida dos pais, dos irmãos, e inevitavelmente dos vizinhos, pobres indefesos, sem nenhuma proteção acústica dos meliantes.

Não sei por que cargas d’água eles tiveram a infeliz ideia de gravar essa música esquecida lá nos porões da memória portoalegrense.

A música tem seus momentos sublimes quando, por exemplo, com sua voz roufenha, Humberto tasca, para agonia auditiva:

Era um garoto que como eu
Amava os bitous e us róóóóóóó´listonis


Fonte: tumblr_n0wrhdoo1m1sthf15o1_500

A sensação da tragédia vai, num crescendo, até que a platéia, presa da boca do cantor, não ousa nem respirar, e ele vai se empolgando:

Quando uma carta sem esperar

(note aqui a sílaba num ascendente até atingir uma nota Dó de peito)

da sua guitarra o separou...

Agora, o clímax do imaginário que criou a verdadeira pérola musical do século XX vem com a onomatopéia de uma metralhadora assassina:

Ratátá  - tatá
Ratátá - tatá

E, por fim, acabadas as balas, o fechamento da música com chave de ouro
Só o silêncio.