Quando ele acordou naquela manhã
logo procurou planejar suas palavras, ações e reações, criar momentos
favoráveis que os levassem a um momento sublime, e ainda sentia os efeitos do
despertar quando percebeu que isso é impossível, não se cria momentos inesquecíveis,
eles acontecem com quem espera milagres.
Alias, quando ele acordou pela
manhã jamais poderia imaginar que seu dia não teria 24 horas, como todos os
outros da sua vida, jamais poderia imaginar que um gesto, que para tantos é
banal, seria radiante o suficiente para quebrar paradigmas temporais...
Naquela manhã não poderia
imaginar qual o real sentido de um mar de sentimentos invadindo o pequeno cais
do seu coração, nem como poderia ser um tufão de emoções destruindo o pequeno e
frágil forte que protegia sua razão.
Sendo assim, ele não imaginava
que aquela seria a sua ultima manhã, pois o homem que despertaria no outro dia
seria outro completamente diferente.
E ainda amanhecia o dia...
Tudo o que foi pensado, feito e
dito naquele dia concorreu para que o cume fosse com determinado desfecho, e o
dia não acabaria enquanto a escalada não chegasse ao fim, que nada mais era, do
que um início...
Os mais belos momentos de nossas
vidas, chegam em escalas, muitas vezes parecem surpresa aos nossos olhos humanamente
depressores, mas são na verdade construídos por almas que já estavam unidas
muito antes dos corpos. Assim como são construídos ao longo da eternidade de um
gesto apaixonado e amoroso, esses momentos possuem escalas, como uma viagem, e
naquele dia ele era avisado de cada escala daquela viagem até que seus olhos
puderam cruzar com os olhos do desejo ardente de seu coração: ela chegou...
Não há jogos, não há planos neste
momento, o que existe são olhares, toques que descarregam uma energia imensamente
grande, e que ainda assim eles tentam absorver pra si, procuram
desesperadamente ser essa energia, decifrá-la, para que no futuro possam
reproduzi-la sem erros.
Mas há um momento, um segundo em
que o mundo simplesmente para de olhá-los e passa a contemplá-los extasiado. É
o momento.
Aquele momento transbordante onde
as palavras sucumbem, os gestos não bastam para expressar o que está em si,
seus olhares fixos e de pupilas dilatas revelam um ao outro que nada mais pode
ser contra, e a entrega ocorre através de um verso simples, mas complexo onde
apenas seus lábios poderiam criar a rima. No caminho do encontro dos lábios
desejosos, seu coração cessa todas as atividades, mas, no encontro único,
consumado num beijo tão desejado, o mesmo coração volta a bater, porém com uma
diástole que parece querer lançá-lo para fora do peito de encontro ao coração
dela...
Ele percebe nesse momento que mais do que os lábios, os corações também
se beijam naquele instante, neste encontro eles se fazem um pela primeira vez,
quando os lábios buscam um ao outro num desfecho pacífico mas avassalador, eles
percebem que era exatamente ali que desejavam estar, não o lugar em si, mas
sim, a maneira, “um no outro e outro no um”.
Tags: Ficção, leitura, Literatura
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