Eu tenho uma notícia chata para você, e é possível que você brigue comigo por isso.
Por favor, não me entenda mal. Eu também tenho essa responsabilidade.
Não é fácil encarar ela, porém, depois de ficar sabendo disso, as coisas ficam mais claras.
Está pronto? Soltarei de uma vez só e espero que me perdoe se eu te machucar com isso:

Você é o responsável pela sua felicidade.

Eu sei, é muita responsabilidade, e você não escolheu ela, mas te garanto uma coisinha: agora as coisas ficarão mais fáceis de serem encaradas.
Vai por mim.
Não estou falando que serão fáceis. Isso nunca será.
Mas saber pra onde se quer ir permite traçar uma estrada melhor.

Quando o psicólogo me contou, fiquei perplexo.
“Como assim? Eu sou o único responsável pela minha vida?”

Confesso: levou um tempo pra me acostumar com essa ideia. Sendo sincero, chega a me parecer estupidez não ter pensado nisso. Ela, agora, me parece bem lógica. Antes foram anos difíceis. Eu estava sozinho por escolha, sim. Mas escolhi estar sozinho, não solitário.

Esse segundo adjetivo foi ao acaso.

E às vezes pesava bastante.
Juntar o começo da vida da adulta, o ganho de diversas responsabilidades, diversas descobertas, enfim, o nascimento do novo capítulo da vida, ao acaso da solidão não foi fácil, mas eu estava inerciado por tudo que me acontecia.
“Nova” cidade, novos amigos, nova rotina, novo emprego, nova inércia.
Só notei o peso da solidão uns dois anos depois, e foi quando eu não estava mais sozinho, pois dividia ap. com um amigo. Me sinto meio mal de lembrar dessa época. Eu estava amargurado com tudo, tinha me fechado, e até tratei ele mal. Fiz com ele uma terapia de choque, basicamente. Toda vez que nos vemos, lhe peço desculpas, inclusive. Só hoje noto o babaca que havia me tornado.

Mas você deve se permitir ter a certeza estúpida da juventude ao menos vez. 

Me dê sua mão um instante, e voltemos ao tema original da postagem: a responsabilidade de se feliz.

Acho que agora vc está com a ideia mais calma na cabeça, talvez ela já esteja fazendo um pouco mais de sentido.
Relatei um pouco de meus problemas pessoais a cima, e espero que não os espalhe. Espero que entenda o porquê deu o ter feito. Longe de mim(?) afirmar que tudo que passei é a exemplificação perfeita de como resolver tal demanda. É apenas um ponto de vista.

Não deposite em outras pessoas a responsabilidade da sua alegria. Ninguém deve ser o responsável por isso além de você. Cada um tem seus objetivos pessoais. Não há nada de errado em focar neles. Somos egoístas a ponto de acharmos que sempre devemos nos doar ao máximo para os outros e quase nada a nos.
Não que seja errada essa doação. Mas... não sei. Tendo a achar que ela deve ser feita de maneira natural, sem que haja a necessidade de reconhecimento. É claro que se espera que o outro lado o faça, mas – e aqui farei uma pequena pausa para pedir desculpas por lhe contar uma coisa que pode acontecer – ele não necessariamente o fará.

Às vezes nos cegamos para os outros também. Às vezes as porradas anteriores nos moldam, ae chegamos ao ponto de não podermos/conseguirmos amar plenamente alguém, já que o Medo se torna uma mochila grudada em nossas costas, pesando quase nada, mas envolvendo grande parte.

E essas porradas as vezes são intencionais, e as vezes não.

Por anos eu não superei uma escolha alheia.

E por anos eu não segui em frente.

E foi preciso passar por um momento solitário, chorar diversas vezes, escrever diversas páginas, e abraçar quem eu queria ser para seguir em frente.
E um sol problemático veio me iluminar, e redescobri um pouco de amor perdido. Só que voar próximo ao sol queimou as asas de Ícaro.

Mas o bom de cair durante um sonho é poder acordar.

E despertar de um sonho ruim é sempre libertador, assim como dar o próximo passo. E depois o outro, e o outro. Quebrar a inércia, voltar a sonhar, voltar a respirar, voltar a andar.
Diversas metáforas são cabíveis aqui. O que importa, meu amigo, é que vc entenda: a liberdade para felicidade volta. 

Nesse caso ela não estava completa, mas era possível rodar por aquela pista. 
Talvez ela nunca esteja, e é isso que faz seguir em frente, e tentar, e sonhar com uma pista o mais regular possível.

"A vida é sua, e eu sei podia ser melhor"

E eventualmente encontrará alguém pra te dar uma parte, e darás a ela uma parte sua, e seguirás pela rodovia, buscando regularidade.

Mas às vezes há bifurcações. E elas machucam.
 “And then there was silence...”
E você passa a não saber de mais nada, e talvez uma velha mochila volte a ser usada.
“Hear my voice... There is no choice....There's no way out...You'll find out”
E ai notará que gritar para a pessoa do outro lado da rodovia podia não ser a melhor coisa. Por mais que ela queira, ela não está perto para ajudar.
“Don't let him in...Don't let her in...Desire, lust, obssession...Death they'll bring...We can't get out...Once they are in”
Só você pode se ajudar. É, só você pode se ajudar. Só você pode buscar ajuda. Só eu pude buscar.
“We live... we die...”
Poucas conversas e poucos desabafos eram o que precisei, mas cada um é cada um.
“Will my weary soul find release for a while. At the moment of death I will smile”
O importe é ver parte da estrada a frente.
Eu não consigo ver a outra estrada, mas torço para que ela volte a se encontrar com a minha, e espero que ela também torça, e que nossas estrada sigam juntas.

E pretendo sorrir para a irmã mais velha do sonho e para o que ela representar. Afinal ela só existe se sua contraparte existir.
 

E me desculpe por contar mais um pouco dos meus causos. Minha rodovia às vezes trás um lado que gosta de falar demais.
Mas agora eu tenho uma nova mochila branca, com asas moveis, que me deixam voar um pouco. Não chego mais próximo ao sol como antes. Prefiro assim. Mas ainda voo, e vejo o sol. E esse ardor é bom. Espero que desta distância as asas não queimem. Ícaro me mostrou o que não fazer, e assim tento voar nessa estrada aérea.
Espero ter exposto o porquê da responsabilidade ser só d’uma pessoa. E que o seu sol sempre te traga um certo conforto, que ele te aqueça sempre. Mas que suas chuvas venham, e passem. Elas são necessárias. 




Boas piadas sobre aves e sobre doces nessa data.